Ballaké Sissoko
Ballaké Sissoko
mali
18 jun / 21:30
Nas palavras do músico maliano Ballaké Sissoko, Djourou, título do seu mais recente álbum, é a corda que o liga aos outros. Dificilmente poderíamos encontrar uma ideia mais sintonizada com o espírito do Imaterial para o arranque da primeira edição. Filho de Djeli Mady Sissoko, Ballaké herdou do pai a mestria da kora (a chamada “harpa africana”) e forjou o seu característico lirismo delicado através de muitas horas dedicadas a escutar os mais velhos, apreendendo o conselho de que antes de falar é preciso saber ouvir. Só depois se emancipou e iniciou um caminho de permanente descoberta que o levaria à gravação com Toumani Diabaté de New Ancient Strings (1999), um dos discos mais notáveis alguma vez dedicados ao instrumento, ou ao sublime duo que partilha com o violoncelista Vincent Ségal. Djourou tem tudo isso lá dentro: a tradição soprada de pai para a filho e a revelação dos novos encontros.

Imagem: ©Benoit_Peverelli
Aynur
Aynur
turquia, curdistão
19 jun / 21:00
Tal como acontece com muitos dos artistas presentes no Imaterial, a música de Aynur surge enquanto lugar de confluência entre uma música tradicional centenária e uma pulsão contemporânea. Essa combinação, no caso, faz de Aynur a mais popular cantora curda dos nossos tempos, hábil a derramar uma voz que estende melodias esvoaçantes por cima de instrumentos plenos de vida, e com uma densidade emocional que mereceu do violoncelista Yo-Yo Ma a descrição de que no seu canto “escutamos a transformação de todas as camadas da alegria e do sofrimento humanos num único som”. Hedûr, o seu último álbum, aproxima a música curda do jazz e reflecte com uma beleza tão deslumbrante quanto comovente as provações e injustiças de que os curdos têm sido alvo na Turquia, país onde Aynur nasceu. Um exemplo admirável de música que carrega consigo toda a complexidade identitária e sofrida de um povo.
Cuncordu & Tenore Orosei + Grupo de Cantares de Évora + Ernst Reijseger
Cuncordu & Tenore Orosei + Grupo de Cantares de Évora + Ernst Reijseger
19 jun / 22:15
Quem abre a porta para receber alguém em sua casa, fá-lo por estar disponível para o diálogo. Assim acontecerá com o Grupo Cantares de Évora, um coral misto fundado em 1979, quando receber na sua cidade os sardos Cuncordu e Tenore Orosei. Sob a direcção do violoncelista Ernst Reijseger (músico com um amplo léxico musical, navegando com igual familiaridade pelo reportório clássico, pelo jazz e pelas músicas tradicionais), juntos criarão um concerto revelador das afinidades e cumplicidades desenvolvidas durante alguns dias de residência artística. Ao cante alentejano juntar-se-ão estas duas tradições vocais da Sardenha – o canto “a tenore” e o canto “a cuncordu” –, unidos por temáticas do trabalho, da relação com a natureza e da ligação suprema à terra. Mesmo que em idiomas distintos, as vozes de uns chamarão as vozes dos outros, num simbólico momento das conversas musicais que o Imaterial se propõe estimular.
Mónika Lakatos
Mónika Lakatos
hungria
20 jun / 21:00
Em 2020, a WOMEX entregou a Mónika Lakatos o seu Artist Award, consagrando a cantora cigana com um dos mais prestigiados prémios entregues no universo das músicas do mundo. O reconhecimento destaca o percurso desenhado pela cantora, enquanto membro do grupo Romengo e a solo, dando nova vida ao património musical da pequena comunidade cigana olah, mas distingue também uma cultura tantas vezes colocada nas margens e ignorada. Tendo actuado por todo o mundo e pisado os palcos dos grandes festivais mas também da Filarmónica de Berlim ou da Ópera de Frankfurt, Mónica Lakatos eleva uma música de expressão simples a uma prodigiosa celebração da vida. O seu empenho contínuo em dar a conhecer a cultura olah baseia-se não apenas no puro prazer de partilhar as suas origens, mas igualmente na firme crença de que só o desconhecimento de outras culturas pode justificar o medo e a desconfiança.

Imagem: ©Farkas András
Aldina Duarte
Aldina Duarte
portugal
20 jun / 22:15
“Diz quem já me ouviu cantar / Que quando soa o meu canto / A terra inteira estremece”. Nos versos iniciais de “Fado com Dono”, escritos por Maria do Rosário Pedreira para Aldina Duarte, está resumida boa parte do arrebatamento experimentado por quem escuta a fadista. Tendo escolhido entregar-se ao fado tradicional, Aldina Duarte tem construído, disco a disco, uma obra ímpar, sem floreados, ligada à mais vital e crua expressão do género. Depois de se afirmar através de um imaculado reportório escrito para a sua voz, e cantado sobre tradicionais, Aldina quis celebrar 25 anos de fado, em 2019, homenageando os seus heróis (Tony de Matos, Beatriz da Conceição, Lucília do Carmo, Maria da Fé ou Carlos do Carmo). É esse disco, a par de alguns dos temas fundamentais no seu percurso, que Aldina partilhará connosco – fazendo-nos, seguramente, estremecer.

Imagem: ©Isabel Pinto
Mustafa Saïd
Mustafa Saïd
egipto
21 jun / 18:30
Nascido no Cairo, Mustafa Saïd cedo mergulhou na música clássica árabe modal, tornando-se não apenas um dos mais espantosos intérpretes de uma nova geração, mas também um dos seus mais dedicados investigadores e professores. A sua abnegada paixão pela música árabe, com um foco na sua expressão clássica mas sem abdicar de uma reinvenção contemporânea, tem-se manifestado de diversas e intensas formas ao longo dos anos – ao publicar artigos académicos e apresentar conferências sobre o tema, ao coligir mais de 500 recolhas de antigas canções árabes, ao gravar vários álbuns que documentam o seu estonteante virtuosismo no oud. Director do Instituto de Arquivamento e Investigação da Música Árabe, no Líbano, e fundador do Asil Ensemble for Contemporary Classical Arab Music, Mustafa Saïd é tido como uma das mais conhecedoras autoridades desta música e um dos grandes responsáveis pela recuperação em curso da música clássica árabe modal.
Egschiglen
Egschiglen
mongólia
21 jun / 21:00
Oriundos de uma paisagem deslumbrante na Mongólia, onde com frequência a música ao ar livre divide o espaço sonoro com os animais, o vento e outros sons luxuriantes da natureza, os Egschiglen criam, desde 1991, um mundo musical de absoluta harmonia com esse contexto local. Com recurso a instrumentos tradicionais da Ásia Central e ao canto tão característico daquela região, os Egschiglen evocam no seu reportório a vastidão das estepes mongóis e a imensidão do deserto de Gobi. Através de temas recolhidos no cancioneiro regional ou actualizados pela contemporaneidade, somos levados por cavalgadas no deserto, a acompanhar o curso de rios ou investir por montanhas e florestas, graças a uma música rica em sugestões visuais e garante de uma notável viagem auditiva.

Imagem: ©Ariunaa
Vincent Moon‘s Live Cinema
Vincent Moon‘s Live Cinema
frança
21 jun / 22:15
Vincent Moon tornou-se um nome reconhecido no mundo da música com a criação do popular site La Blogothèque. Ao longo de vários anos, tornaram-se virais vídeos em que Moon colocava músicos como Arcade Fire, Jack White ou Iggy Pop em imprevistas situações de concerto. Na última década, tem-se dedicado a uma outra forma surpreendente de juntar música e imagem, documentando cerimoniais nos cinco continentes – dos cantos polifónicos da Geórgia aos rituais xamânicos na Amazónia, dos círculos sufi da Tchetchénia às canções fúnebres da Indonésia. A sua ambição, entretanto, expandiu-se da documentação para a vontade de interagir ao vivo com estas gravações (audio e vídeo). No Imaterial, Moon recorrerá às filmagens realizadas com grupos de cante alentejano, apresentando-se em palco com a música portuguesa Diana Combo para improvisar um novo objecto de transe.

Imagem: ©Moana Gangemi
Mari Kalkun
Mari Kalkun
estónia
22 jun / 21:00
Em 2018, o jornal inglês The Guardian escolheu Ilmamõtsan como um dos dez melhores álbuns do ano na área da world music. A distinção chamava a atenção para a música singular e fascinante da estoniana Mari Kalkun, criadora de canções de uma intimidade tocante, nas quais a sua voz e o seu kannel (uma espécie de saltério típico da região do Báltico) se fundem com sons da natureza. Nas palavras da cantora, embaladas pela folk local, estão em permanente diálogo a humanidade e a natureza, as questões ambientais e as inquietações pessoais. Numa intensa e aparentemente simples proposta musical, Mari Kalkun enreda-nos num encantamento melódico do qual não se quer sair. É uma música tão familiar quanto misteriosa, tão discreta quanto arrebatadora, tão descarnada quanto envolvente, tão impregnada de realidade quanto suscitadora de utopias. Uma música feita de pequenas contradições e paradoxos, mas que se acolhem de ouvidos abertos.

Imagem: ©Ruudu Rahumaru
San Salvador
San Salvador
frança, occitânia
22 jun / 22:15
Vozes, percussão e palmas. É quanto basta para os seis elementos dos San Salvador criarem uma música hipnótica, frenética, absolutamente deslumbrante e que graças ao álbum La Grande Folie os impôs como uma das grandes revelações deste ano de 2021. A sua reputação como indomável banda ao vivo já lhes garantira a rendição da revista Songlines após a actuação na WOMEX de 2018, graças à crueza de um canto polifónico impulsionado por uma percussão primária, levando cada tema a revelar-se um pequeno torvelinho musical. Tomando como ponto de partida os textos do reportório popular da Occitânia, os San Salvador deixam-se inspirar depois pela rítmica linguística do occitano, fazendo da musicalidade das palavras o principal alicerce das suas canções. Uma experiência musical sob a forma de endiabrado transe colectivo.

Imagem: ©Kristof Guez
Fargana Qasimova
Fargana Qasimova
azerbaijão
23 jun / 21:30
Ser filha de Alim Qasimov, dono de uma das vozes mais espantosas do planeta e que a islandesa Björk afirmava em 2011 ser então o seu “cantor preferido vivo”, poderia ter-se revelado paralisante para Fargana Qasimova. Mas, aos 16 anos, já Fargana não se encolhia perante esse peso e partia em digressão com o pai, integrando a sua banda. Quando, em 2000, Qasimov foi descoberto pelo mundo ocidental através da edição do álbum Love’s Deep Ocean, as vozes de ambos surgiam já naturalmente lado a lado, num apadrinhamento que tornava claro o quanto a jovem cantora não tardaria a reclamar o seu próprio espaço. Ao cumprir essa expectável profecia, Fargana Qasimova assumiria também um lugar fundamental na aproximação da tradição mugham junto de novas gerações, abordando com uma sensibilidade contemporânea a poesia clássica do seu país. O novo sem esquecer o antigo, como sempre deve acontecer.

Imagem: ©Jalil Didevar