Na génese do Imaterial está a celebração daqueles que, ao encostarem o ouvido às músicas de raiz, ouvem mais do que o passado. Mas, a cada ano, sempre que apontarmos os holofotes na direcção daqueles que fazem da tradição uma enunciação contemporânea, não deixaremos de lembrar quem nos trouxe até aqui. O Prémio Imaterial visa, assim, saudar e agradecer a uma personalidade ou artista cujo percurso, inscrito nessa lógica de atar passado e presente, tenha sido decisivo no incentivo ao diálogo entre diferentes culturas, no estímulo ao cumprimento dos direitos humanos, e na defesa da igualdade de relacionamento e da paz entre os povos.
Na sua primeira edição, o Prémio Imaterial – uma escultura da autoria de Pedro Fazenda – distinguirá o inigualável músico basco Kepa Junkera. Esta página seria sempre insuficiente para louvar uma obra baseada numa trikitixa (concertina basca) que, partindo dos ritmos e das melodias locais, abarca no seu fole distendido as músicas de todo o mundo. Basta dizer que podemos ouvi-lo em álbuns de Hedningarna, Chieftains, Caetano Veloso, Vozes Búlgaras, Béla Fleck ou Pat Metheny para se ter uma pequena ideia das incontáveis “conversas musicais” que Junkera há muito vem mantendo. Em 2018, numa residência artística em Évora, criou, apresentou em palco e gravou com músicos da região o álbum Ath-thurdã. Uma outra e sempre renovada maneira de, através da música, varrer do dicionário a palavra “fronteiras”.
Imagem: ©Pedro Fazenda